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A Pílula de Pompeu - Parte II de III


Pieter Bruegel, "O Misantropo", circa 1568.

“Arthur! Arthur!”, chamavam-no à porta. Era Priscila. Arthur estava apagado no sofá da sala. Os brados de Priscila o acordaram. Levantou-se confuso e com uma sensação diferente e estranha no corpo. A angústia de Priscila o não incomodava. Ergueu-se lentamente, arrumou o cabelo. Dirigiu-se até a porta e a abriu, dizendo:


“Quem pensas tu que és para dar tamanhos brados no escritório e tamanhos golpes em minha porta?”


Priscila arregalou os olhos e travou, com medo. O semblante e a voz de Arthur estavam diferentes.


“Eu fiquei preocupada, porque...”, ia com a voz embargada dizendo, mas Arthur a interrompeu.


“Não és minha secretária para preocupar-te comigo, nem terias qualificação para tal. Aliás, é somente à tua beleza, e não à tua competência, que deves esta oportunidade, a qual tratas com ingratidão sendo sempre tão leviana.”


Priscila ofendeu-se imensamente e ia dizer algo.


“Não quero saber”, cortou-a Arthur. “Faze-me um café e mo traz aqui, senão podes ir embora. Sabes que tenho influência para contratar e demitir quem eu quiser. Mas não te preocupes, em havendo OnlyFans, não passas fome, e até enricas.”


Priscila ficou aterrorizada e o obedeceu prontamente, pensando que talvez o homem estivesse surtado. Embora não fosse dono da empresa, facilmente poderia promover sua demissão. A medo entrou de volta no escritório trazendo o café, e já ia se retirar, quando Arthur falou:


“Tens um minuto, meu amor?”


A súbita mudança de tom confundiu Priscila, que novamente estancou. Arthur levantou-se da cadeira e foi ter na frente dela, fitando-a em fixo nos olhos. E com uma voz absolutamente profunda e serena falou:


“Obrigado pelo café.” Olhava-a de perto e tinha-a indefesa sob si. Parou e a observou de cima embaixo. “Por que estás com medo?” Lentamente pegou a mão de Priscila, sentiu que suava e tremia. Conduziu-a aos lábios e a beijou, sentindo-lhe sutilmente o perfume. Priscila quis recolher a mão, mas por medo a deixou. “Quero te fazer uma confissão antes de voltares para tua sala”, continuou Arthur, falando bem perto e baixinho no ouvido de Priscila. “Eu já nos imaginei neste sofá diversas vezes, eu te empurrando com força enquanto segurava o teu cabelo, e tu contendo o gemido para ninguém no escritório nos ouvir.” Arthur aproximou-se ainda mais de Priscila. “Depois eu te colocava de frente para mim e te chupava até me gozares na boca.” Tomou-a pela cintura e sentiu sua respiração excitada. O mesmo medo que Priscila sentia se transmutava em fogo. “Imagina”, disse Arthur com voz ainda mais baixa, “eu te fodendo de quatro enquanto te seguro pelos cabelos”, e segurou os cabelos de Priscila, “e te faço minha cachorrinha.” E os puxou, e Priscila sem querer soltou um gemido. Já estava molhada e queria se entregar. Nunca imaginara que um dia em sua vida sentiria tamanho desejo por alguém de quem minutos atrás sentia nojo. Arthur pegou sua mão e a colocou sobre a calça. “Olha como tu o deixas, meu amor.” Priscila sentiu o membro hirto de Arthur em sua mão. Deixou-a ali e mesmo o apertou. Quis senti-lo na boca. “Deixa-me ver”, disse ela. “Por...?”, disse Arthur. “Por favor”, disse ela, e imploraria se fosse preciso. Arthur o colocou para fora, e Priscila o devorou.


*


Terminada a peleja, Arthur começou a recolher seus pertences para partir. Estava decidido que ia montar sua própria empresa.


“Ameaças demitir-me”, disse Priscila, “mas és tu que vais embora?”


“Amanhã começo meu novo negócio.”


“E já tens um plano?”


“Tão só um mal formado esboço. Sei que abrirei uma agência de marketing como esta, mas os pormenores pretendo descobri-los no percurso, que é caminhando que se faz o caminho.”


“Não és o mesmo Arthur!”, disse Priscila como se pensasse em voz alta. E o ouvir isso foi como despertar de um transe: que só aí lembrou-se Arthur que tomara a pílula de Pompeu e que seu comportamento ousado e atrevido se devia justamente a isso. De repente, aquela lembrança o encheu ainda mais de vigor. E sorriu, cheio de dulcíssimas luzes.


Convenceu Priscila a dormir em sua casa e transaram a noite toda. No dia seguinte, estava a moça apaixonada por Arthur, e Arthur por seu novo empreendimento, a que começava a dar forma dando-lhe o nome de Pompeu Marketing Ltda. E saiu a contratar designers, gestores de tráfego e social medias, comprou os domínios pompeumkt e pompeumarketing.com, convocou uma equipe para produzir a identidade visual do empreendimento e decidiu que as cores seriam preto, azul e branco, pois era preto o comprimido que tomara, azul o Mustang de Pompeu, e branco a cor do contraste, e por fim, à mesma hora que no dia anterior havia tomado a pílula, isto é, por volta das três e meia da tarde, voltou ao escritório antigo para terminar de recolher suas coisas.


Chegando à rua da empresa, uma ansiedade social começou a se apossar de Arthur e o medo de antes deu a voltar. Sentiu fraqueza e desânimo, e um desejo intenso de regredir à vida já ontem abandonada. O pânico assomou e o desespero veio. O efeito do comprimido passara. Tornou a ver-se inferior e inerme, fraco como um órfão perdido, e contudo tinha agora dívidas e empregados. Abandonara o sustento seguro por um sonho temerário. Pensou em subir ao edifício e atirar-se. Que pensaria dele Priscila, tornado agora ao estado anterior, só que mais desprezível e arruinado que dantes! Precisava da pílula de Pompeu, mas não sabia onde encontrá-lo. Cometera o erro de lhe não pegar o número. Uma negríssima ânsia apertou-lhe o peito e uma infinita náusea dobrou-lhe o estômago. Vomitou na calçada do café onde conhecera Pompeu.


“Que nojo!”, gritou um homem que acabara de sair de um Mustang azul.


Continua...

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