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Foto do escritorJoão Theodoro

Você Agradece a Deus Depois de Uma Bela Punheta?

Atualizado: 30 de jul. de 2023


Jean-Léon Gérôme, "The End of the Pose", 1886.

No jardim de infância, lá onde as melhores e piores memórias são criadas e já a índole dos indivíduos se denuncia, lembro que uma vez a professora reclamou de sentir cheiro de merda na sala. Para resolver o problema, simplesmente perguntou quem havia se cagado. Como não tivesse resposta, porque já nessa idade a vergonha e o orgulho existem, decidiu que olharia as calças de cada um, até encontrar a fonte do mau cheiro.


Lembro-me de que fui o único que não achou nada de mais naquilo e que nem parei de ler o livro de figuras que tinha em mãos quando a tia me pediu para levantar e olhou a minha bunda. E lembro-me de que me senti orgulhoso de tamanho desembaraço, num lugar onde todos os outros pareciam alvoroçar-se por coisa tão pouca. E desde aí observei que falar de certas questões íntimas nunca me abalou como abala a grande maioria, ainda que sejam tais questões naturais e universais. Também não saio falando dessas coisas como falo dos cafés que tomo e dos passeios que faço, nem muito menos das atividades fisiológicas inferiores, uma vez que isso seria não só desnecessário como deselegante.


Porém, hoje falarei da punheta, esta atividade que me é tão cara, embora não a pratique tanto quanto poderia dar a entender falando dela assim com tanto carinho.


Porque essa atividade é tão benfazeja ao homem, e nela encontro tanto prazer e alegria, e tão insubstituível é ela, que diria pouco se dissesse que merece um soneto. Porque merece muito mais que um louvor em catorze versos. Sendo, contudo, parco o meu talento e curta a minha criatividade, foi tão somente isso que lhe pude oferecer, na forma do que segue:


Amizade sempiterna


Eu dispenso a hetaíra e o proxeneta;

Escarro em cara de donzela branca!

Verdadeira afeição só se levanta

Entre todos os homens e a Punheta!


Cosmopolita prática secreta,

Pela qual a suprema flauta canta,

Pecaminosidade sacrossanta

Que me esvazia e enleia e me completa!


Isolado no quarto, tranco a porta,

Como ao sepulcro de uma bruxa morta,

E preparo meu próprio ritual:


Com alígeros e hábeis movimentos,

Eu conjuro o Pai dos relaxamentos

E assisto ao branco vômito final![1]


E quem nunca se divertiu batendo uma? Quando entro no PornHub ou no XVideos, meus sites favoritos, de vez em quando assisto a cenas tão cômicas que gozo rindo. Um homem comendo a empregada e dizendo: “Você chupa melhor do que limpa!”, e um garoto se masturbando enquanto vê sua mãe sendo fodida por um negão, dizendo: “Yeah, fuck my mom!” são algumas das cenas que me ficaram na memória, se bem que nem de longe as mais engraçadas. Isso porque a maior parte do humor em pornografia deriva de cenas performáticas, e não de falas. Infelizmente, o riso não combina com o prazer orgástico, de modo que o gozo autêntico é sempre sério, ao contrário do que digo logo acima. Mas antes e depois a risada tem algum espaço.


Um momento em que posso viajar com a imaginação e colocar-me no lugar de homens fazendo sexo nas mais diversas e excitantes situações, sem contudo estar ali de fato e sem as consequências de tão ignóbeis perversões, e ainda poder rir de cenas toscas e tão idiotas que somente um homem poderia delas achar graça, um tal momento não é deveras um presente de Deus em nossa vida? É por isso que me sinto feliz e grato após uma punheta bem batida (leia-se: batida sem culpa), e agradeço a Deus. Que mais eu poderia fazer? É nos momentos de maior prazer, êxtase e alegria que mais fortemente nos atinge o sentimento de gratidão.


Fico muito feliz por Deus ter nos dado a punheta como forma de prazer. Desse modo, não precisamos recorrer a excesso de comida, drogas e outras coisas para nos aliviar em dias difíceis. Não que eu me masturbe somente em dias difíceis. Um sábado tranquilo também pede uma boa punheta, sem hora para acabar, daquelas em que se abrem diversas abas e se goza na primeira – porque o adiamento do orgasmo não faz sentido quando posso fazê-lo de novo daqui a cinco minutos. Utilidade Marginal Decrescente da Punheta.


Mas a principal vantagem do canto da flauta sagrada é evitar que se façam tolices por mulher. Já dizia o sábio que a punheta resolve em 95% dos casos. Quantos convites imprudentes e equivocados eu já não deixei de fazer porque bati uma antes? Aquela mulher que parece tão interessante perde completamente o brilho após uma punheta. “Quem? Fulana? Nunca vi mais gorda.” E volta-se à leitura, ao videogame e outras atividades amenas não dilapidadoras de patrimônio. Quando uma mulher continua interessante após saciado o desejo, isso se chama amor! Outro sábio falou: não decida nada antes de bater uma. Não se tomam decisões importantes de saco cheio ou barriga vazia.


NoFap é um assunto cansado. Cada um sabe quanta punheta faz bem ou mal para si. Eu só sei que, depois de uma bela Jorrada nas Estrelas, eu só consigo sentir gratidão.


[1] Extraído do meu livro de poemas Parnaso Devasso.

 

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