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Foto do escritorJoão Theodoro

Todos os Seus Problemas São Mentais

Atualizado: 9 de mar. de 2023


John Maler Collier, "Lady Godiva", 1897.

Hoje, premido pela necessidade de lembrar a data de uma carta que escrevi para mim mesmo – a data, diga-se, em que a devo reabrir e ler –, carta essa da qual eu fale talvez um dia aqui neste blog; enfim, à procura dessa carta, fui ter com uns cadernos velhos meus, referentes a 2012 até o presente ano. Naqueles cadernos eu escrevia ideias, textos literários, objetivos pessoais, profecias autorrealizáveis, e sobretudo derramava algumas dores, que quanto mais distantes no tempo, mais estúpidas se me pareciam. De tal sorte que, através de ver como essas pequenas coisas me afetavam, eu vejo quão pequeno homem eu era, e quão pequeno homem eu sou.


Entretido com esses cadernos, passei quase uma hora, pensando haver passado quinze minutos. Neles reli pensamentos que tinha aos dezoito e vinte e poucos anos, alguns até de bom discernimento, que me fizeram sentir orgulho, mas praticamente todos eivados de uma soberba e uma melancolia que enodoavam aqueles papéis. Em sua maior parte, vinham escritos em linguajar erudito, às vezes afetado, porque o linguajar corrente não parecia digno de mim. Hoje eu ainda emprego um tom elevado em certos escritos, não porque pense estar falando diante do Areópago, mas porque, se eu escrever de outro modo, não me divirto. Para mim, assim como para outros estudiosos da Estética, a Arte – pelo menos quando a exerço e não a consumo – se assemelha a um jogar. De modo que, desde sempre, quando eu escrevo, sinto-me brincando. Mas naqueles tempos o empregar linguagem erudita vinha para me fazer me sentir superior aos outros, no que alfim acabava por ser, entre todos, o menor. Assim foi que o meu estilo cresceu, não pela escrita, nem pela leitura, mas por um acréscimo na humildade. Quanto mais eu me despojava da vaidade, mais elevadas se punham as minhas letras, que contudo ainda hoje mal se encontram soerguidas.


Assim eu lia aqueles pensamentos velhos, vendo o quanto eu mudei. Eu sei que estou melhor, mas saber disso de memória é diferente de poder assistir à própria alma na forma de textos que eram os meus gemidos mais íntimos. Ver assim então o retrato da alma antiga me fez vislumbrar com maior orgulho o quanto eu cresci.


Algumas das minhas lamentações diziam respeito a vícios e insuficiências que eu cria ter, outras versavam sobre coisas futuras das quais eu cria carecer, mas as mais delas se referiam, diretamente ou não, aos caprichos de Amor. O desejo, somado à vaidade no escolher as amantes, torna qualquer homem um escravo. Quem, no amor, está feliz? Parecemos camundongos presos à roda de correr, sempre em busca, já não da batida perfeita, como Marcelo D2, mas sim da metida perfeita, um tredo ideal. E tal fortuna, se não sucede, faz sofrer por nunca haver existido, mas se acaso ocorra, faz lamentar por já ter acabado. Porque a felicidade no amor, quando existe, é curta.


Mas não foram esses pensamentos tristes que eu pretendia compartilhar com você, sensível leitor. O que mais me chamou a atenção nesse incurso no passado da minha alma foi que todos os meus problemas tinham natureza mental, isto é, fundavam-se em ideias; vale dizer: no modo como eu enxergava as coisas. De forma que, como preconizava Epicteto, era a minha opinião, e somente ela, a raiz de todo o meu sofrimento. E é uma mudança no meu modo de pensar, e isso somente, que me distingue hoje de quem eu fui ontem.


Ver esses problemas tão diminutos me fez perceber que viver é simples, e a vida, fácil, caso tenhamos uma visão escorreita. Eu já sou perfeito; as minhas ideias é que me arruínam. Urge então que se faça aquele trabalho que eu venho fazendo desde 2016: que é o de autoaprimorar-se através do autoconhecimento e da retificação das ideias. É o exercício de uma purificação, coisa que não significa, em verdade, acrescentar pureza, mas eliminar a sujeira.


Não vendo propósito em manter esses cadernos sob a minha guarda, nem muito menos querendo deixá-los à mercê de qualquer um que os pudesse tomar e ler, decidi rasgar suas folhas e jogá-los fora. Não costumo ser apegado a coisas do passado, graças a Deus. E aprendi também que a função desses cadernos, embora me ensinem o quanto eu evoluí através de suas anotações antigas, é sobretudo a de serem repositórios de emoções e me ajudarem desse modo a organizar e depurar o pensamento.


Guardei-os até por muito tempo. Hoje, sem piedade, mas também sem ingratidão, apenas como se estivesse me livrando de poeira e abrindo espaço em cômodos, rasguei-os e os lancei no lixo, dando adeus ao passado, reinaugurando o presente e sorrindo para o futuro.



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