Soneto a um casado com gêmeas
Pitoresca ambição e grande tenho
Que jamais outra igual se viu no mundo,
E embora me exigisse ser facundo,
Não me faltou saber, arte ou engenho.
E era tal ambição de tal desenho
Que um amor só não pude ter profundo,
Senão um de dois corações oriundo
Porque de gêmeas com as quais me avenho.
Na lua-de-mel foi doce a peleja,
Mas logo falta o que muito sobeja
E menos se tem quanto mais se quer.
Porque é miséria dupla ser casado
E, embora duas tendo desposado,
Comer todo dia a mesma mulher.
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Para mais literatura, veja Parnaso Devasso, meu livro de poesias.
Sinopse: Parnaso Devasso é um livro dual: o autor, ao mesmo tempo que guarda profundo ódio às manifestações da Semana de Arte Moderna de 1922, o que revela sobretudo no poema "Estupradores da Estética", também se reserva o direito de perverter formas fixas e fazer largo uso de imagens pútridas e escatológicas, relembrando a estética de Augusto dos Anjos. Por um lado, Cândido resgata a acepção clássica do Belo, a que se filia com máxima devoção; por outro, exulta a fealdade como fonte igualmente ilimitada de beleza. Os mais diversos temas são tratados no livro: do sexo à morte, de Deus ao Diabo, do mendigo fuçando o saco de lixo em busca de algum pão frio para comer ao belo canto de um pai à sua filha amada enquanto a toma no colo. Tudo isso permeado de irreverência, humor e polemismo, que ele arremata com o brutal "Pornocracia", seu poema satírico em homenagem à mulher moderna. Clique no link e saboreie.
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