Quando eu era infante, meu pai dizia que tinha visto uma nave certa vez – em cuja ocasião eu estava com ele, mas não me lembro. A existência de alienígenas para mim nunca foi algo extraordinário, dada a suposta extensão e antiguidade do universo.
Ora, qual é a dificuldade em aceitar que semelhante coisa existe? Sou da opinião de Aristóteles: tudo o que não é ilógico é possível. Vi, no entanto, alguns cristãos negarem peremptoriamente a existência de ETs, ou dizerem que se trata na verdade de demônios. É claro que eles pensam assim: precisam proteger suas crenças.
Esse posicionamento de cristãos não me impressiona, uma vez que de religiosos espero irracionalidade e delírio por padrão. Mas recentemente descobri que também os “céticos” possuem crenças a proteger a todo custo. Por exemplo, perguntaram ao Gordão Foguetes qual a probabilidade de existir vida inteligente em outro planeta, e ele respondeu resolutamente que “zero”. Um outro cético, amigo meu, falou que está tão certo de que ETs não existem que, se chegasse a ver uma nave pousando e ETs saindo dela, mesmo assim não acreditaria. Ele se internaria voluntariamente em uma instituição psiquiátrica, pois concluiria estar louco, disse-me.
Veja como as crenças são importantes para as pessoas. No caso do Gordão Foguetes, é evidente que ele não pode admitir tão clara possibilidade porque, se o fizer, perderá credibilidade em seu meio. Já no caso do meu amigo, creio que se trata de um apego emocional ao sistema de crenças que ele já consolidou em sua cabeça, o qual daria muito trabalho alterar. Disse-lhe eu inclusive que o ceticismo deles em relação a algo tão banal (na minha visão) me impressiona muito mais do que o próprio fenômeno ufológico em si. Essa resistência, sim, contra crer em algo tão inócuo é que me parece algo extraordinário. De minha parte, acredito mais em um universo estilo Rick e Morty do que nesses modelos pacatos dos céticos e religiosos.
E justo na semana em que eu estava encucado com isso, passei como costumo passar na livraria do shopping parar namorar as estantes de livros e, por coincidência, abri um livro de Krishnamurti exatamente na página em que explicava a razão de semelhante resistência: dizia ele que os seres humanos precisam de crenças porque lhes dão segurança. Uma crença nunca é apenas uma crença. Trata-se de uma peça de um quebra-cabeça mental que dá sentido e ordem à vida que o sujeito leva. Caso uma das peças centrais esteja faltando ou seja retirada, todo o castelo se desmorona e a pessoa fica sem chão, desorientada. Por isso que as pessoas se aferram às suas “verdades” e as defendem como se fossem filhos. O livro chamava-se A Primeira e a Última Liberdade.
Eu, contudo, me libertei desse apego há algum tempo. A mim pouco importa se a Terra é plana e tem um domo e foi criada por um ditador chamado Javé, ou se é redonda, giratória e está voando aleatoriamente universo afora em uma velocidade supersônica, sem origem e sem destino, ou se – hipótese adorável – estamos todos em uma simulação dentro do computador de um ET cabeçudo e sem rola. Qual a diferença? Em todo caso, somente uma verdade existe: o eu sou.
Deus é uma ideia na sua mente. O fato é você. A única coisa da qual você pode ter certeza é: “eu sou aqui e agora”. Remova o “aqui e agora”, e o “eu sou” permanece, inexpugnável. O mundo existe na memória, a memória existe na consciência, a consciência existe na Consciência Pura e a Consciência Pura é um reflexo da luz nas águas da existência.[1]
A verdade é que você não tem certeza de quase nada, exceto de que você é. Se você disser que tem certeza absoluta quanto a suas crenças cósmicas e espirituais, estará mentindo. Todos nós estamos vivendo com meras crenças operacionais, que servem apenas para nos dar um norte, um sentido. Porém, no fundo, qualquer que seja a verdade final, ela tem que passar pelo “eu sou”, pela consciência que a tudo isso está testemunhando sem ser afetada.
Voltando ao assunto dos ETs, eu vejo que a presença alien – seja ela verdadeira, seja ela apenas mais uma fraude dos governos – está para ser totalmente revelada. O imaginário da população tem sido preparado com filmes e pequenas doses de revelações desde a década de 30 ou 40. Agora ex-oficiais dos EUA estão denunciando a existência de corpos e naves não humanos, guardados pelo governo dos estados unidos há bastante tempo. (Isso não me soa uma novidade, aliás.) Em breve, creio que ainda este ano, os próprios alienígenas aparecerão na televisão se revelando, e não haverá para onde correr. Mas qual a importância disso? É só mais uma novela idiota.
Não obstante, é sem limites o ser humano. Decerto haverá alguns que adorarão os seres, deificando-os e recebendo-os com flores; outros os odiarão e dirão ser uma ameaça a ser combatida; outros ainda dirão ser demônios a serem expulsos pelo nome de Jesus. Quanta bobagem!
Minha intenção é não dar muita importância a isso. Preparar um ovinho de codorna, fazer um suco de laranja e comer enquanto assisto ao mundo sendo o que sempre foi.
[1] Nisargadatta Maharaj, Eu Sou Aquilo, p. 187.
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